amores expresos

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Despedida

Obrigado pelos comentários, pessoal. Quanto ao absinto, não vou negar que gostei, mas já amanhã à noite estou indo para onde não o vendem. Mas faz parte de certos mitos de minha juventude. E os comentários das escultoras me emocionaram nesse momento que deixo tanta coisa vivida nesta cidade que me fascina. Beijos e abraços. Sergio. Praga, 3 de outubro de 2007.

sábado, 29 de setembro de 2007

VALSA DO ADEUS

Já olho para as vistas e lugares tão belos de Praga com um olhar meio nostálgico, pois no dia 4 de outubro estarei voando de volta pra casa. Mas nos últimos três dias tive o prazer de ter aqui comigo o grande Tadeu Jungle, cineasta, fotógrafo, roteirista, diretor de teatro. Além de nos divertirmos bastante, como sempre acontece, quando dois brasileiros com afinidades se encontram no exterior, creio que foi feito um bom trabalho. Infelizmente não pudemos subir no balão, pois o tempo esteve miserável. Mas eu, prevenido, já subira antes e, feliz como uma criança, pude contemplar a velha cidade lá de cima. Em compensação, precisando voltar com Tadeu ao Novo Museu Franz Kafka, tenho a oportunidade de corrigir um erro grave que cometi no meu último post. A frase "Não importa o que fizer, você sempre estará errado" pertence ao romance "O castelo" e não a "Na colônia penal". Nesta novela, está a frase que eu, na verdade, queria usar na epígrafe: "A culpa nunca pode ser posta em dúvida". E nessa terceira visita ao Museu, ainda tive a oportunidade de reparar numa réplica do instrumento para execução de condenados na "Colônia", que consiste num mecanismo em que o condenado se deita nu, de bruços, enquanto uma enorme agulha vai inscrevendo em seu corpo o seu suposto crime.

Em Praga, no estatuário, o sofrimento cristão está em toda parte. Mas fiquei feliz que Tadeu pudesse registrar o Cristo que tenho logo diante de minha janela, no quarto de hotel, diante da Charlus Most. Sua grande diferença, que logo me chamou a atenção, é que Ele, cercado por dois homens, médicos, acho, está com muito boa aparência, de rosto e de corpo. E está com um dos braços agarrando a cruz, com uma certa displicência - e me desculpem os cristãos fervorosos - que me lembrou um pouco um esportista. Da minha janela no Hotel Três
Avestruzes, posso ouvir também, enlevado, o gorjeio de aves que não gorjeiam como as daí.

Senti-me realizado, também, que Tadeu pudesse filmar a musa eleita para minha história: uma escultura de madeira, em frente ao Caffé de Lei. Trata-se de uma jovem bem moderna, com seios que aparecem sob a blusa, uma das pernonas de fora, o sexo velado, mas ostensivo, enfim, uma jovem que alegra o turista já meio cansado de terrores e crucificações. Se pudesse, eu a levaria comigo para casa, sentada ao meu lado no avião.

Falando em turistas, o curioso é que esses não fazem nunca o roteiro kafkiano, graças a Deus, se não teríamos japoneses fotografando todos os retratos, manuscritos, instalações, no Novo Museu; guias falando em diversas línguas, uma babel terrível que nem Franz seria capaz de prever. Talvez se possa inferir daí algum princípio de Literatura Comparada: Kafka não é para japoneses. Vou tentar conferir esse princípio, na primeira oportunidade, com o grande poeta nipônico Gozo Yoshimasu, meu colega no International Drinking Program, na Universidade de Iowa, EUA, em 1970/71.

Levei Tadeu ainda para ver o pintor eslovaco Vincent Hloznik que me fez, ou me destruiu de vez, a cabeça, com surubas desconcertantes, humanas e animalescas. Enfim, indescritíveis, mas suponho que vocês poderão ver os quadros no documentário do Amores Expressos, como também poderão ver a bela Alice, de Carrol, no cartaz do belo teatro de sombras, a que assisti, encantado. E devo explicar que todas essas coisas fizeram parte de minhas pesquisas de campo.

Enfim, no documentário haverá também uma outra Praga, em que habitam uns poucos marinheiros negros, que convidam os visitantes para passeios de barco no rio Vltava. Conversa vai, conversa vem, descobrimos que são da Costa do Marfim, e marinheiros porra nenhuma. Estão assim trajados apenas como chamariz, e como nesta cidade quase não há negros, chamam a atenção à distancia. Mas um deles logo estava querendo cobrar uma grana para ser filmado. E seu argumento definitivo - para darmos no pé - foi: "Mas o Ronaldinho não cobra?"

O que me resta nesses últimos dias? Talvez volte ao pub Vodu, para tomar absinto, relembrando os tempos em que eu, Sartre, Simone, Boris Vian... E comer uma avestruz como ultima refeição. Sergio Sant'Anna - Praga, 30 de setembro de 2007.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

ERRANDO

(Seja lá o que você fizer, você estará sempre errado - Franz Kafka - Na Colônia Penal)

Eu já estava a fim de subir no balão, à margem do rio Vlcava (acho que é isso), mas como Tadeu Jungle, que vem aí para filmar, na terça, mostrou-se interessado em usar o aparelho como locação, fui lá agora há pouco, disposto a experimentar a coisa antes de sua chegada, já que o dia está bonito e quentinho. Esqueci-me de que na quinta o balão não sobe, mas o homem que estava lá tomando conta me disse que se o vento amainasse, talvez o piloto viesse para levar passageiros.

Quem pensar que precisa de muita coragem para voar no bicho está enganado, pois ele só sobe na vertical, seguro por cordas, por quarenta metros. Mas já sei que a visão que se tem de Praga lá de cima é ampla e, naturalmente, muito bela. E, para falar a verdade, hoje estava mesmo era com vontade de ir mais longe, errar por ai, sem destino. Desculpem a confidência, mas minha alma está inquieta. Quanto a medo, como já voei em Paulistinha e Piper, tudo monomotor, alguns com a lona remendada com roupas de mulher, no antigo aeroporto de Carlos Prates, em BH, acho que tiraria de letra um passeio de balão. Mas o perigo maior no aeroclube de CP não era propriamente o avião, mas eu, como piloto. Não conseguia solar (no jargão, voar sozinho pela primeira vez), de jeito nenhum, nos Paulistinhas, até que me passaram para o Piper, cujo prefixo nunca esquecerei: PP-GOG. Diziam que ele pousava sozinho, igual burro velho voltando para a cocheira. Constatei que era verdade quando fiz meus três primeiros pousos solo perfeitos. Não sem antes o instrutor, quando eu ainda voava com ele, ter me incentivado: não vou pegar mais nessa merda (merda era o seu comando, era o que ele queria dizer): ou você pousa direito ou morremos nós dois. O final foi dos mais felizes, como já viram. Até aí nada, o pior foi quando vendi minha lambreta, para viajar, e comecei a ir ao aeroclube na garupa da lambreta do meu irmão, Ivan. Era tanta lenha que, chegando lá no aeroporto, eu já estava apto até para acrobacia.

Mas os erros de que quero falar aqui são outros. Não subindo no balão, fui outra vez ao Novo Museu Kafka, ali pertinho de onde decola o artefato. E descobri que errei, outro dia, ao elogiar o audiovisual "O processo", exibido no Museu. Na verdade, seria melhor falar numa instalação e ela é sobre e tem o nome de "O Castelo". Nada menos do que magnífica. E vou continuar defendendo a heresia de que a melhor coisa a se ver sobre Kafka, em Praga, é o novo museu. Espaços, fotos, instalações que criam a sensação perfeita do universo asfixiante do gênio. O estande sobre suas "histórias de amor", que tanto me interessam, é de um bom gosto irretocável.

Nada como ver as coisas mais de uma vez. Ontem voltei à exposição de Andy Warhol, "Disaster Relics", e posso corrigir a tempo que a frase de Warhol sobre a morte de Kennedy - que vocês podem ler mais abaixo nesse blog - está sob dois retratos de Jacqueline Kennedy, e não Marilyn Monroe, naturalmente. E continuo com a opinião de que a presença de Warhol é um contraste perfeito com o barroco da cidade. É isso aí, por hoje, pessoal. Espero poder voltar a escrever aqui depois de ter subido de balão sobre o rio Vlcava, cujo nome, com certeza, terei de retificar outro dia.

PS Esse eu acertei, o nome do rio, já conferi.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

CONSELHO AOS JOVENS AUTORES

Acabo de voltar de uma cerimônia histórica, pelo menos para os cristãos brasileiros e tchecos. O encontro de N.Sa.Aparecida com o Menino Jesus de Praga. Uma réplica da imagem de Aparecida foi trazida para cá e colocada, hoje, ao lado da estátua do Menino de Praga, bem pequenina, mas cercada de uma molduragem de ouro puro, esplendorosa. A cerimônia teve toda a pompa, com a presença da primeira Dama da República Tcheca, o Primeiro Ministro, o Cardeal, o Embaixador Brasileiro, o Núncio Apostólico, o Arcebispo de Aparecida do Norte e outros. E confesso que fiquei comovido, apesar do meu agnosticismo, pensando em minha mãe que era devotíssima e daria tudo para estar presente num acontecimento como o de hoje. Mas este o pessoal do Brasil logo estará vendo na TV e nas fotos dos jornais. E no que depender dos esforços do deputado Marcelo Itagiba, ele deverá estar presente em todas essas fotos. 

Mas o que tenho a dizer aos leitores do nosso site é algo que lhes interessa de perto, profissionalmente. Entre inúmeras oferendas que se encontram na sacristia, está lá uma blusinha vermelha, delicadíssima, que foi mandada fazer e oferecida ao Menino Jesus de Praga, por ninguém menos que o escritor Paulo Coelho. Mas isso quando ele era ninguém e seus pedidos foram, um de caráter particular e amoroso,  que não nos cabe revelar, e o outro, notem bem, foi o de, justamente, tornar-se um escritor bem-sucedido. E isso me foi confirmado por insiders absolutamente confiáveis. Além do mais está lá gravado o nome famoso em todo o mundo. Quase não preciso dizer mais nada, meus jovens leitores-escritores. Imitem o gesto do Paulo, venham a Praga, tragam uma oferta com sinceridade em seus corações, como fez o Mago, e logo estarão lá na lista, nem preciso dizer do quê. Aquela em que quase todo escritor quer estar, mas não confessa. Sergio Sant'Anna, em 17 de setembro de 2007.

domingo, 16 de setembro de 2007

Blog SS

TRÊS AVESTRUZES. Dei uma lida na mensagem dos meus colegas atualmente em trânsito e fiquei com inveja. Não só pela qualidade dos textos, como pela correção impecável dos mesmos. Tenho de explicar os meus erros. Não tenho laptop, ou escrevo de Internet Cafés ou aqui do U TRI PSTROSU (Três Avestruzes), o meu hotel. A Internet da casa é completamente maluquete, além de faltarem os acentos nos teclados, como, aliás, nos Cafés. Fora isso, sempre fui ruim de digitação e dou o maior trabalho ao Rafa para pôr tudo em ordem aí na RT/features. Mas como a Net do hotel está funcionando hoje, até agora, não quis perder a oportunidade e sou capaz de pedir avestruz no jantar (juro que tem no cardápio), de comemoração. Mas tirando o problema de enviar os textos, eu não poderia estar em melhor lugar, em frente a Charluv Most, ponte barroca onde todo o mundo passeia o dia inteiro, e fica perto de todas as coisas interessantes de Praha 1. Não vou falar de catedrais, castelos, estátuas barrocas, essas coisas tão banais em Praga. A pé, você pode ir também ao Museu das Maquinas Sexuais, visita que achei indispensável, tendo em vista o tema de nossa missão. As maquinas são meio enganadoras, mas assisti a um filme pornô inesquecível, do tempo do cinema mudo, com mulheres gorduchinhas, um médico de senhoras, e tudo. Hoje ia entrar também no Museu de Cera - pelo Mick Jagger e pelo Salvador Dali, na porta, as imagens são de terceira, e adoro isso - mas estava fechado. Do Museu dos Instrumentos de Tortura da Idade Media, já falei, mas aí não achei graça nenhuma. Enfim, vou descobrindo as coisas por aqui, e esse distrito vai se tornando para mim quase tão familiar quanto Laranjeiras, no Rio, onde moro. Me acostumei a ir no restaurante italiano quase em frente, o Casanova (também tudo a ver com nossa temática), e além do dono vir falar com todos os fregueses, querendo saber de onde são, o que fazem, etc. (quando contei o que me trazia a Praga, ele anunciou para o restaurante todo), a gente vê numa telona todos os gols de todos os jogos em toda parte e também assisti, comendo um ravioli, à briga do Felipão com um jogador sérvio. Torci por este, claro, como não. Mas vocês já descobriram que esta é uma croniqueta dessas dispensáveis, de domingo, e fico por aqui. Sergio Sant Anna. 16 de setembro de 2007.

sábado, 15 de setembro de 2007

A PRAGA DE K

Martina é professora de inglês e literatura inglesa na Universidade de Praga. Gentilmente, quando soube, através de uma amiga comum, Lada, de minha presença e motivos para estar em Praga, dispôs-se a me acompanhar pela Praga de Kafka. De cara, demos azar, o cemitério onde ele está enterrado (que muitos pensam ser no velhíssimo e lindo cemitério judeu, e não é), estava fechado para visitas. Mas ser barrado num cemitério pode ser de bom augúrio.

Tornamos a pegar o metrô e fomos parar no Kavarna Arcos, café freqüentado por Kafka, Max Brod e às vezes até Milena. O grupo, que abrigava outros intelectuais e artistas, costumava referir-se a si mesmo como "Os Arconautas". Diz-me Martina, que até 1989, quando ruiu o Império Soviético, nenhuma menção a K era feita no Arcos. Só depois, mas não logo, os proprietários descobriram que tinham um bom negócio nas mãos. O Café, sua construção e visual já não tinham nada a ver com o antigo, este freqüentado por artistas, intelectuais, bêbados e vagabundos, virou um negocio clean, mas com um retrato de Kafka na vitrine. Lá dentro uns livros do autor para vender. Acabei comprando um, mas de fotografias, que mostra a Praga de Kafka como era no tempo dele.

De todo modo, senti certo frisson de estar tomando meu café ali no boteco de Kafka, e conversando com Martina sobre K, seus amigos e sobretudo sua relação com Milena Jesenská, mulher de cultura e forte personalidade, ativista política, que acabou morrendo num campo de concentração nazista. Como venho lendo sobre as mulheres de K, sua complicadíssima relação com elas, o assunto para mim é totalmente familiar e o papo engrena fácil. Já quando se trata dos dramas históricos dos tchecos, imprensados por alemães, Hitler, posteriormente Stalin, é difícil não se comover. Ao mesmo tempo, é legal viver o contraste com a bela e alegre juventude de todos os países que flana pela cidade hoje em dia. A indescritivelmente linda Charlus Most, nas minhas vizinhanças, é também o paraíso dos músicos de rua, muito bons, diga-se de passagem, com jazzistas, cantores, violinistas, multiinstrumentistas e suas incríveis máquinas sonoras, e por aí vai. Quantas vezes já não atravessei a ponte, neste mês, e nunca cansei. Pois se um rio nunca é o mesmo rio, como se diz, essa ponte nunca é a mesma ponte.

Mas voltando a K, chegamos a sua casa, perto do que antes fora o gueto, mas totalmente reformada e que abriga, naturalmente, uma exposição, com fotos de família, edições originais, etc. E vou cometer uma heresia: prefiro o novo Museu Franz Kafka, perto do meu hotel, que assume logo uma contemporaneidade e usa a tecnologia para criar um clima que um adjetivo não definiria, mas os leitores de Kafka,familiares com seu senso de humor (negro), sua genialidade para criar um mundo absolutamente novo, mas no qual reconhecemos o interior do nosso - esses leitores perceberiam logo uma forte relação. Bem, não estou dizendo muito, mas assistir a um audiovisual chamado O processo, com impressões de uma Praga fantasmagórica, que às vezes se desfaz, já vale a ida ao Museu.

Com tantas transformações por que passou o nosso mundo, não é de admirar que Kafka, segundo as palavras de Martina, transformou-se em marketing e objetos de consumo altamente vendáveis em Praga. Franz Kafka, inevitavelmente, chegou às camisetas, como toda celebridade presente ou passada. O que pensaria disso o escritor, com todas as suas culpas e complexos? Curioso é que quando falei em Andy Warhol a Lada e Martina, ambas disseram não gostar dele. Mas é justamente desse mundo das camisetas e celebridades que Warhol foi o arauto genial e que começa a passar por um processo de revalorização. E sua presença aqui, no Museu Kampa, para visitantes como eu, é mais do que bem-vinda.

Mas prefiro terminar a descrição de meu passeio com Martina numa avenida nova, asfaltada, o que não é normal aqui, no centro da cidade. Lá no fundo vê-se um lindo, colorido e gigantesco metrônomo. Foi colocado no lugar de uma estátua de Stalin, simbolizando um novo tempo. Logo depois, Martina pegaria sua bicicleta e iria para casa, a quinze quilômetros da cidade. Como seu marido é húngaro, pude conversar com ela sobre Puskas, Kocsis, Czibor, Hideguti, do espetacular time húngaro de 1953/4, cujas atuações são transmitidas de geração à geração. Aliás, todos eles foram transformados em personagens, "a cle," no romance Budapeste de Chico Buarque. Sergio Sant'anna. Praga, 15 de setembro de 2007.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Faltou uma mensagem importante

Extraviou-se a minha mensagem de 7 de setembro. Nela eu falava do lance muito curioso de, em frente à bela igreja de São Francisco de Assis, onde se cultua também Santa Agnes, que foi a única mulher a fundar uma ordem só de homens, Os cavaleiros da coroa vermelha, se é que me lembro, estar o Museu dos Instrumentos de Tortura da Idade Média. Uma ordem que se destinava a assistir os enfermos, os pobres e os viajantes. Na igreja estive assistindo a um belíssimo concerto com composições de Mozart, Bach, Vivaldi, Haendel, entre outros, num clima que nos remetia, pode-se dizer, ao melhor pensamento que se tem de Deus. O Aleluia, de Mozart, e uma exaltação à vida, principalmente.

Mas não deixei de ir, como prometi, ao Museu dos Instrumentos de Tortura, naturalmente provocando repulsa e horror. E apesar de meio mafualesco, os instrumentos que ali se exibem são verdadeiros e todos foram usados contra supostas feiticeiras e inimigos da fé, tudo muito bem documentado. A saída, no livro de assinaturas e comentários, assinei meu nome e não pude deixar de dizer: This is the Catholic Church. Escrevi ainda, com evidente exagero, mas com uma intenção politicamente certeira: Like Guantanamo. Depois pensei que deveria ter escrito: Abaixo todas as religiões. Pensei mais ainda: que o papa deveria andar se arrastando pela rua vestido com andrajos e pedindo perdão por tantas atrocidades. E continuo a pensar isso.

Para relaxar, depois, entrei num barzinho e pedi uma latinha de chá de cannabis. Não aconteceu nada. Os fabricantes suíços do produto, vivaldinos, tentando se aproveitar dos atributos da erva. Agora, já pensaram se a fabricação industrial dos produtos tirados da cannabis for aprovada? Uma coisa é certa: será o paraíso da propaganda, imaginem o que poderá ser criado para vender o produto. Sergio. Em 10 de setembro de 2007.


(segue post original extraviado)

Cabo de visitar (detesto turismo, mas tem de ir, né?) o famoso Castelo de Praga e a Catedral de São Vito. O esplendor da Igreja Católica, arrancado com o sangue e suor do povo crédulo. Ontem à noite fui, finalmente, ao Museu dos Instrumentos de Tortura da Idade Média. Os maiores horrores que a mente humana pode inventar. Na Catedral, pinturas singelas do menino Jesus com a Virgem Maria. No Museu, meio caidão, mafualesco, os castigos quase inacreditáveis, não estivéssemos vendo ali os instrumentos tão reais, aplicados aos que negavam o suposto Deus da bondade. O papa devia andar arrastando-se em andrajos pelas ruas, implorando um ínfimo de perdao. No livro de assinaturas e comentários do Museu da Tortura escrevi meu nome e dois comentários: This is the Catholic Church. O outro, com exagero, mas politicamente certeiro: Like Guantanamo. Devia ter escrito: Abaixo todas as religiões. Na saída, para relaxar, resolvi tomar num boteco uma lata de chá de cannabis. Enganação pura. Abaixo o pior Capitalismo que (suíço, no caso) que nos vende o produto, mas não nos dá o barato! Mas Praga continua linda. Sergio. Em 7 de setembro de 2007. (Sem tropas na rua.)

domingo, 9 de setembro de 2007

Dando um tempo no maravilhoso e algo sinistro barroco dessa cidade (o sinistro fica por conta de tantas lembranças de suplicios), fui ver hoje uma exposição de Andy Warhol, com uma temática ligadas a acidentes horríveis de carro, a morte e temas afins. Não importa onde você esteja, Andy tambem sempre estará la. Essa frase parece dele, mas é minha, e tive a idéia dela ao ver o anúncio da exposição do falecido artista norte-americano. Andy Warhol, um homem essencial do nosso tempo, foi o maior publicitário do mundo. Basta dizer que aqui em Praga, com todas as suas maravilhas, você avista de muitos pontos um pouco mais elevados, nos fundos de uma construção à beira do rio, em letras enormes e coloridas, a inscrição: Andy Warhol. Foi facílimo eu me orientar, e cheguei lá, no Museu Kampa, que interage de forma a tirar o fôlego com o rio. Gostei da exposição de Warhol, como sempre: das obras, das idéias contidas nas obras, e das grandes tiradas sob certas obras. Eis uma delas, ao que me lembre, sob um retrato de Marilyn Monroe (uma de suas grandes obsessões): "Eu fiquei muito excitado tendo Kennedy como presidente: ele era bonito, jovem, inteligente, mas não me senti muito incomodado quando ele morreu. O que me incomodou foi o modo como a TV e o rádio estavam programando todo mundo para sentir-se muito triste." Sergio Sant'Anna, Praga, 9 de setembro de 2007.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Para o blog

Escrevo de um cibercafé, mas em plena Idade
Média. Tudo é lindo por aqui e o hotel é em frente da Ponte
Charles. Hoje à noite vou a um concerto de música de Mozart
e antes vou dar uma passada num Museu (é tipo mafuá,
pessoal) da Tortura na Idade Média. Tudo em busca de
inspiração para uma história de amor. Na última vez que
estive em Praga, em 1968, compramos uns fantoches, eu e
minha mulher, e eu improvisava histórias na hora para o
escritor André Sant`Anna. Ele não conta, mas foi aí que
aprendeu tudo. Só que agora prefere histórias pornográficas.
Meses depois os russos entraram com os seus tanques. E é
isso pessoal, mal estou chegando. Encontrei-me com Bernardo
Carvalho no aeroporto Charles de Gaulle e ele havia perdido
seu vôo e mofava a espera do próximo para São
Petersburgo. Meio preocupado com a bandidagem russa altas
horas da noite. É assim o Amores Expressos, gente cruzando
os ares de um lado para outro do mundo em busca de uma
história. Abraços do Sérgio.